sábado, 5 de junho de 2010

Poetisas

Ah meu mestre, se a mim aprouvesse
De uma dádiva Divina talvez
Possuir uma só minúscula pena
Uma das bem pequenas
Dessas asas que os Homens imaginam
Possuírem os querubins
E que eu ouso dizer que sim
Os poetas e só os poetas sabem
Possuem-nas escondidas...

Quem sabe assim por toda parte
Eu ficasse conhecida...

E se num momento de modéstia à toda prova
Rogasses por engenho e arte
Eu por certo me contentaria
Com uma fração ínfima de teu brilho
Um poema a nascer-me por filho
Espada erguida salvando-me do cativeiro...

Quem sabe assim por toda parte
Eu voasse distraída...

Ando buscando a própria face pelo mundo
Nas telas,nas passarelas,nas avenidas
Onde falenas passeiam fingidas
Cingindo o riso, mascarando a dor.

Ando nos guetos prisioneira,
Me arrastando pelos dias
Mastigando a poesia do desamor.

Não busco fama nem riqueza
À duras penas, só a certeza
Inquietante certeza
De que preciso ser ouvida
E fugindo do modelo imposto
Antes de ser só mais um rosto
Eu possa ser toda coração.

Deus, porém, em infinita sabedoria
Coloca bondade em todas as coisas
E se canta displicente o pássaro liberto
Canta sofrido o que está em cativeiro
E a Humanidade em infantil conceito
Ouve melhor o trinado do lamento.

Canta meu mestre, que já és livre
Eu por enquanto agora me contento
Carregar o fardo como tantas poetisas
Pitonisas estranhas
Servas do seu tempo...

Eu por enquanto apenas me contento
A sorrir por fora, declamar por dentro...

( Edilene Santos-Caçando Estrelas-ed. Nativa)

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